quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Diamanda Galas - Gloomy Sunday

Diamanda Galas - Gloomy Sunday

Descobri esta interessante informação...

Uma música que me faz lembrar a minha parte mais sombria, negra... mas não somos feitos só de luz. A sombra também faz parte.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Curiosidades...


Há algum tempo (uns anos atrás...) uma velha amiga (não em idade)vinda de Serpa traçou num guardanapo de um hotel umas palavras e números estranhos para mim. Na altura tudo me pareceu mágico e distante. Reconheci nas suas palavras e explicações a sabedoria de uma realidade que eu não conseguia ainda pôr em palavras. Serenou a minha grande inquietação da altura, acalmou o meu coração através de um outro entendimento, um entendimento que ultrapassa tempo e espaço. Quando nos despedimos, senti-me mais confiante, mais pessoa, mais humana.

Hoje, como nesse dia, lembro-me bem desse sentir, recordo esse meu estado e sorriu, fico feliz e agradeço por tudo e nada, as mãos, os olhares que sempre me têm acompanhado tão perto. E subtis, discretos...

No passado fim-de-semana foi a minha vez de me iniciar na artes que essa minha amiga trouxe até mim nesse encontro... engraçado, não é?

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Não pares junto à minha campa a chorar
Porque não estou lá.
Não estou adormecido.
Sou os mil ventos que sopram,
Sou o brilho do diamante na neve,
Sou a luz do Sol na semente madura,
Sou a chuva branda do Outono.
Na quietude macia da luz matutina
Sou a ave que voa veloz
Não pares junto à minha campa a chorar,
Eu não estou lá,
Eu não morri.


Nativo Americano

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

A minha casa

A minha casa tem muitos nomes, é grande e pequena, com recantos escuros e luz a jorrar pelas janelas e portas abertas! Um pátio enorme, sol e lua alta a espreitar por entre ramagens de árvores. Como é bela e assustadora ao mesmo tempo. Parece que me afundo nela às vezes e outras vejo na transparência.

É bom habitar esta casa. Como sabe bem estar aqui!

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Lila Downs, Llorona

O grão de trigo e o grão de oiro

Ia eu pelo caminho da aldeia
pedindo de porta em porta,
quando o teu carro de oiro
apareceu ao longe
como sonho magnífico.
E eu perguntava maravilhado,
quem seria aquele Rei dos reis.
As minhas esperanças
voaram até ao céu,
e pensei que os meus dias maus
tinham acabado.
E fiquei à espera de esmolas espontâneas
tesouros atirados ao pó.


O carro parou a meu lado.
Olhaste-me e desceste sorrindo.
Senti que por fim
tinha conseguido a felicidade da vida.
Mas, de repente,
estendeste-me a mão direita:
- Podes dar-me alguma coisa?


Ah! De que se havia de lembrar
a tua realeza!
Pedir esmola a um mendigo!
Eu estava confuso e não sabia o que fazer.
A seguir, muito devagar
tirei do meu saco um grãozinho de trigo
e dei-to.

Mas qual não foi a minha surpresa
quando, à tarde,
ao despejar o meu saco no chão,
encontrei naquele miserável monte
um grãozinho de oiro.

Como chorei amargamente
por não ter tido a coragem
de me dar todo a ti!

Rabindranath Tagore

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Aqui estão algumas das minha filhinhas

uma das primeiras peças, mas uma das últimas a serem queimadas no forno raku. Partiu-se, mas é personalidade!


a minha primeira peça quando foi ao forno raku saiu de lá em cacos. Esta foi a segunda... estava cheia de medo que também lhe acontecesse o mesmo. Quando vi que estava inteira dei pulos de alegria! Que felicidade!

esta ganhou vida própria... o vermelho e as pintinhas pretas apresentaram-se de uma forma completamente inesperada... linda! Surpreendente.




quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Raku naked - um caminho de felicidade

Um dia encontrei um papelinho que fazia publicidade a um workshop de Raku Nudo. Eu nunca tinha ouvido falar neste tipo de cerâmica e desde logo decidi ligar para saber mais pormenores.

Inscrevi-me e entre meados de Junho e Julho lá fui eu a caminho da Escola António Arroio, local onde decorreu este curso.

O mínimo que posso dizer é que foi uma revelação para mim! As horas corriam, não havia cansaço que vencesse o interesse, a vontade, o entusiasmo. O início, como os inícios costumam ser para mim, foi de adaptação, de reconhecimento, de confusão. Era tudo tão novo!!! Depois, aos poucos, sem dar por isso, o amassar do barro tornou-se mais fácil e rápido, o brunir mais leve e eficiente as peças começaram a ganhar forma e personalidade... fui conhecendo os colegas (todas mulheres, excepto o prof. Fernando Sarmento) e de dia para dia sentia-me mais à vontade.
Cada vez mais feliz!
A primeira queima no forno Raku foi uma autêntica revelação para mim. Não esquecerei a cor alaranjada, transparente das peças ao levantar o forno. Pareciam mágicas, assim tão cintilantes, um milagre puro. Lindo! A violência e a fragilidade. Do equilíbrio dos elementos nasce a peça, descascada, lavada... tanto carinho dedicado a cada peça, as nossas "filhinhas" (a formadora do curso, Stefi, incentivou-nos sempre a cuidar assim das nossas peças).

O curso aproximava-se rapidamente do seu final e sentia-me mais e mais envolvida no processo criativo, um prazer imenso ao dançar com o barro, mergulhar as mãos nele, escutar a sua linguagem... começar também a falá-la. Todas as fases têm o seu encanto. Não seria capaz de escolher uma entre tantas. Todas são importantes, ajudam a construir o todo... a dar a luz final.

Senti-me no meu meio, como peixe na água, como flor na terra. Foi tão bom poder ajudar a colocar e tirar as peças do forno raku no último dia. Não conseguia parar um minuto que fosse. Subir e descer a temperatura, ver com o ferro se as peças já estavam prontas... colocá-las e retirá-las da serradura... molhá-las com água, raspá-las... exclamações de alegria e espanto, por vezes tristeza com alguma peça partida. Em suma... tanta emoção! Tanta vida! Tanto trabalho de equipa precioso.

Aprendi muito a vários níveis. O mais importante não consigo dizer, só viver, viver!!!

Quero voltar a sentir tudo isso, em continuidade... agora e amanhã... quero continuar!

Espero que seja para breve...

















... alguns membros da nossa equipa








... no último dia (ou noite), com os sacos a abarrotar de peças lindas, a caminho de casa! Uma enorem efelicidade no coração... e também tristeza.



Stefania Barale (Stefi), a formadora do curso de Raku Nudo, que simpaticamente me enviou estas fotos e me autorizou a mostrá-las aqui no blog. Obrigada, Stefi!

terça-feira, 14 de agosto de 2007

As muitas actividades de Julho deram o mote à minha "nova vida". Ajudaram-me no renascimento, no despertar da criatividade. Foram uma lufada de ar fresco na vida demasiado espartilhada para o gosto do ser mais autêntico dentro de mim. Um salto no escuro, um grito de libertação, a abertura de muitas portas e postigos desta casa.
Para quê continuar a enganar-me? Para quê procurar ocupações que só me deprimem e entristecem? Por que não... por que não tentar o meu próprio caminho?
Deixar a estrada "segura" (como muita gente diz!), embarcar naquele trilho que me fala cá dentro. O que é a segurança? Está tudo em mutação, o mundo vibra ao ritmo do movimento cósmico...
E cá venho eu, passo-a-passo, devagar ou a correr!
O que quero eu, afinal? Ser feliz.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007



Solilóquio

Uma folha em branco deitada num tabique de madeira apodrecida, por onde escorre um halo de luz diáfana, evocação de um rosto puído e estranho, que erra por um cais sem mar. Uma página vestida de crua nudeza e de um pudor súbito e prostrante, recolhida no vago aceno de uma ave que perdeu os progenitores numa estúpida batalha de sangue morno e corrompido. Lá fora, o apelo da rua vazia morre tacitamente na brisa insustentável que arrasta o meu ser em solfejos inauditos de quem receia falar. O olhar espaventado, nutrido de reminiscências dispersas, enclausurar-se-á num ábaco indecifrável onde a alma afoita divaga num escarnecimento num pulsar estrepitoso de culpa antiga, à espera. à espera de poder regressar. Um dia. Neste dia. mas porque tarda a madrugada escarlate, tempo de libertação (ó ave, voa! Voa!), a folha incessantemente branca, pálida como a própria mortalha da morte, fermenta a minha absurda vontade de pintar uma palavra que, de repente, numa explosão vibrante e cáustica, possa exprimir o eco surdo alojado no leito frio de uma cama por fazer. mas as palavras, sórdidos engenhos da vida, Puta acossada, desfalecem escamoteadas nos lábios tugidos e áridos. E o som, adágio de corpo moribundo atirado no fosso da memória, esvai-se no vagar alucinante de um cigarro que arde ao canto da boca.

A escrita do Hélder (1994), um mar de chamas sem fim...
Uma lembrança, um olhar... a mais viva morte!