segunda-feira, 16 de julho de 2007

John Everett Millais, Ofélia (1851-52)
mais viva morte

deslizo com a água
acompanho o murmúrio
cabelos soltos livres
vestido gelado desfeito
gotas suaves
segue-me a vegetação
único céu vivo
escuta a minha passagem
acolhe-me
perfume
flores atentas
terra, cobre-me caixão
o aconchego da terra
único horizonte
brisa, toca na folhagem
inventamos melodias
estes meus lábios
secos de sangue
embalamos silêncio
braços abertos
assim
esperem, mãos vazias
flores caídas
em mim
celebração
papoila viva fala morte
fala morte fala morte
aqui deitada
leito de vida
guia-me, movimento no desconhecido
leva-me
água
canta
deixa-me ir, já não resisto
inspiramos
fim de cada instante
sussurras-me
“Ofélia, a mais viva morte”

2 comentários:

Dorka disse...

Ainda vou ter que le-lo varias vezes, mas esta muito bem escria... tem ate um sabor...

... infinitoos particulares ... disse...

Foi para o curso de escrita criativa, o exemplo de um intertexto - peguei num quadro e escrevi o texto baseando-me nele. Tá minimalista!