segunda-feira, 17 de março de 2008

Jardim

No primeiro dia do workshop só começámos a quebrar a "pintura" ao fim da tarde, com a dança infernal ao som de música ritmada e de batidas selváticas de mãos e instrumentos musicais mais ou menos improvisados.
Antes mostrávamo-nos todos tão compenetrados, de humor tão acertado com o momento, tudo tão certinho, a máscara sorria prazenteira à sombra, como que a fazer-lhe sinais para um pacto qualquer, umas tréguas de medo. Mas a sombra não se vende, toda a gente sabe disso.
Então, ao fim daquela tarde de sábado a dança soltou-nos um pouco os temores, evadimo-nos um pouco da prisão de medo e deixámos que as sombras espreitassem. Vieram até nós, abraçando-nos o chamamento, correram livres entre nós. A energia a circular... maravilhoso!

No domingo, o segundo dia do workshop começou ameno também. Depois fomos ao jardim procurar uma inspiração em que nos ajudasse mais tarde no confronto com a Sombra. Era ainda cedo, tudo tão calmo, apenas os sem-abrigo sentados nos bancos a partilhar o pequeno-almoço com os pombos. Alguns ainda deitados por entre papelões e sacos. Tudo tão calmo, com o brilho límpido do sol. Tudo tão fácil.
Um grande contraste com o final de tarde atribulado, cheio de interferências próprias da ocasião, afinal. Muita coisa foi dita e também não-dita. O mais importante é sentir tudo, a alegria e a tristeza, os momentos melhores e piores como um todo integrador. A partir daí podemos caminhar para a cura interna. Respirar a dor, a raiva, a revolta, o abandono... a seu tempo as dificuldades de hoje são as soluções de amanhã.
É preciso é acreditar, erguer o "instrumento e poder" e seguir em frente.

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