Finalmente chegou a noite da descida aos infernos, a voz ímpar de Diamanda Galás foi quem nos guiou, ensinando-nos a olhar as surpresas da caixa de Pandora de olhos bem abertos. Not for the weak. Ou melhor, para os fracos, especialmente para os fracos. Para todos os que têm tanto medo, mas mesmo assim continuam em frente, pois sabem, lá no fundo, que não se pode mais regressar àquilo que já foi.
O caminho aponta para ali, em frente, chegou o momento de arriscar tudo, dizer adeus à pele morta e ser livre. Sim, sentir liberdade profunda e ser autêntico! Ser louco e acreditar no impalpável, nas formas que só ainda existem dentro deste coração selvagem! Seguir, apesar das dúvidas, medos, dores, indiferença nos olhares! Sim, caminhar sem ver os pés na noite escura e confiar em tudo e nada, no visível e no invisível, apelando àquilo que mais fundo fala em nós.
Sinto a energia desta voz vibrar poderosa e isso faz-me lembrar quem sou e por que estou aqui. A escuridão e a luz de mãos dadas, puras, autênticas. As faces múltiplas do ser e da vida, a versatilidade que desfaz a rigidez.
Viver a música de Diamanda Galás é sempre um acontecimento intenso que nos faz sentir o sangue a fervilhar nas veias, é um motor de propulsão que nos desperta a consciência, tantas vezes entorpecida no quotidiano. Não se consegue ficar indiferente, acorda-nos, transporta-nos para sítios onde poucas vezes temos coragem de entrar...
No sábado assisti a um portento de espectáculo, a figura, a voz, o piano, o jogo de luzes... todos os elementos nos ajudaram a embarcar nessa viagem quase meditativa, quase irreal , tão perto tão longe. Há morte e escuridão em cada um dos nossos passos, mas é daí também que provém a vida, o sangue, o amor, a intensidade, a força maior dentro de nós.
Admiro esta artista inclassificável e vi a forma como se entregou, a dedicação de corpo e alma - recebi e dei também parte de mim - a minha consciência, a presença intensa, total.
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