segunda-feira, 20 de agosto de 2007

O grão de trigo e o grão de oiro

Ia eu pelo caminho da aldeia
pedindo de porta em porta,
quando o teu carro de oiro
apareceu ao longe
como sonho magnífico.
E eu perguntava maravilhado,
quem seria aquele Rei dos reis.
As minhas esperanças
voaram até ao céu,
e pensei que os meus dias maus
tinham acabado.
E fiquei à espera de esmolas espontâneas
tesouros atirados ao pó.


O carro parou a meu lado.
Olhaste-me e desceste sorrindo.
Senti que por fim
tinha conseguido a felicidade da vida.
Mas, de repente,
estendeste-me a mão direita:
- Podes dar-me alguma coisa?


Ah! De que se havia de lembrar
a tua realeza!
Pedir esmola a um mendigo!
Eu estava confuso e não sabia o que fazer.
A seguir, muito devagar
tirei do meu saco um grãozinho de trigo
e dei-to.

Mas qual não foi a minha surpresa
quando, à tarde,
ao despejar o meu saco no chão,
encontrei naquele miserável monte
um grãozinho de oiro.

Como chorei amargamente
por não ter tido a coragem
de me dar todo a ti!

Rabindranath Tagore

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