sábado, 17 de novembro de 2007
competição
aprendi
disseram
que valia a pena
saber
ser melhor
ir mais longe
correr adiante
pensava
que valia a pena
mas agora
sinto
um somos todos
um
um
sinto
um
momento
um
disseram
que valia a pena
saber
ser melhor
ir mais longe
correr adiante
pensava
que valia a pena
mas agora
sinto
um somos todos
um
um
sinto
um
momento
um
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
outra margem...
quantas margens
na outra margem
e eu aqui
gritos
gritos
chamas
fogo
e eu chamo-te
a ti
estás lá
ao longe
choro
sim
a outra margem
é aqui
do outro lado
vejo-me
a meio de um rio
mar de lágrimas
abraça-me, distância
abraça-me, distância
pensava eu
que era só isto
afinal
sou outra parte
a olhar-me de longe
na outra margem
ilusão
agora vejo
guia luz
súbito olhar!
divididos
unindo-nos
somos dois
sem saber mais
de que lado
a outra margem?
sexta-feira, 2 de novembro de 2007
When the clay calls
I am in awe of this clay that fills me with passion
And wonder.
This earth
I have become a part of
That also I have grown out of.
Nora Navajo-Morse
quarta-feira, 31 de outubro de 2007
aqui
Ausente mas presente, mais presente do que nunca. Especialmente centrada, a viver no centro, centrada, a centrar cada instante, a subir e a baixar cada segundo, a moldar a eternidade, para cima para baixo a equilibrar a vida... movimentos tão simples básicos essenciais que se tornam tão complexos são tão densos... ao ritmo da vida respirando ar vermelho que me alimenta a alma
sábado, 20 de outubro de 2007
átomo vida
encontrei pássaro morto
pisco abandonado
ali
olhar da vida
mas ele um corpo vazio
já se fora
agora
vive em todo o lado
pisco abandonado
ali
olhar da vida
mas ele um corpo vazio
já se fora
agora
vive em todo o lado
algo essencial
cobre-me com o olhar
essencial
essencial
lágrima caindo
perfeita
música palavra
gotas de sal
notas puras
firmes
ecos de luz
coração
passos lentos
dá vida doce
ínfima
essencial
essencial
essencial
lágrima caindo
perfeita
música palavra
gotas de sal
notas puras
firmes
ecos de luz
coração
passos lentos
dá vida doce
ínfima
essencial
terça-feira, 16 de outubro de 2007
...tanta coisa nova ...!
Início da semana ... um novo começo, uma nova vida, muitas surpresas... outra vez a estudar... parece que a minha vida é de recomeços e aprendizagens, muitas aprendizagens, tanta coisa nova, diferente!
Agora aqui estou, a estudar e a residir no Cencal, o centro de formação das Caldas da Rainha... quem diria! Há uma semana atrás ainda estava longe desta possibilidade, numa realidade muito distante daqui. Fui ao site do Cencal (http://www.cencal.pt), inscrevi-me no curso de Cerâmica Criativa na terça à noite, na quarta ligaram-me a marcar entrevista para sexta...
Foi assim...
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
terça-feira, 9 de outubro de 2007
... a revolução continua ...
Muito pó por todo o lado, muita confusão, muitas coisas revoltas, amanhadas à pressa, atiradas para caixas e caixotes, emaladas, olhadas com uma certa tristeza, incerteza também. Valerá apenas guardar ainda isto ou então atirar para o lixo? As roupas, antigas, velhas, os rostos que nos miraram dos retratos durante anos lá de cima, dos seus lugares cativos de destaque, agora por terra, sentem-se avaliados pelos vivos, carregados, vão para um local bem menos digno do seu orgulho poeirento. As mobílias, cheias de pó, já do tempo em que se compravam coisas novas para aquela casa, desmontam-se ou cobrem-se com plásticos. Pode ser que ainda aguentem uma mexida destas! Até os aranhos sentem o sobressalto, correndo rápidos e assustados de aqui para ali. Estranham tanto movimento, as vozes que se levantam, discordam, ralham ou riem. Também eles precisam de procurar novo lar...
Por fim, no dia seguinte de manhã os pedreiros empoleiraram-se no telhado e começaram a tirar as telhas antigas, destelharam, destelharam, destelharam... a poeirada dos 56 anos de construção apoderou-se de toda a rua ("até à igreja", como disse o meu tio), as vizinhas trancaram-se em casa, calafetaram portas e janelas.
À tarde, depois do almoço, os pedreiros munidos com uma espécie de ferro dobrado na ponta, puxaram pelas canas, levantaram pregos ferrugentos e muito pó, arrancaram as canas com uma facilidade surpreendente. Minutos depois estava tudo no chão. Eu e a minha avó olhamos para tudo isto com admiração. Senti uma felicidade enorme! Que espectáculo maravilhoso! Que oportunidade de olhar a transformação! Que felicidade, que dádiva ... assistir assim a um desmoronar de tanta coisa velha, de tanto tecto, tanta telha ...
Lindo, aquele relento, todo aquele ar, tanta noite a entrar pelo vazio a descoberto lá do cimo ... a limpar, a renovar, a apaziguar as querelas antigas, a abraçar alegrias e tristezas ... embalando a criança o bebé está tudo bem, pronto descansa agora, está tudo bem ...
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
E eu... estou desperto agora?...
Meu interior, ouve-me, o espírito maior,
o Professor, está perto,
acorda, acorda!
Corre para os meus pés -
ele está perto da tua cabeça agora mesmo.
Dormiste durante milhões e milhões de anos.
Porque não acordar esta manhã?
KABIR
as mãos rodam rodam rodopiam acompanham o ritmo velozes dominam lentas acarinham fazem umas vezes criam outras demasiado fortes intrometem-se deitam a baixo caos depois centram-se centram repõem refazem concentram-se em novo equilíbrio aqui agora
domingo, 30 de setembro de 2007
Um ser humano faz parte do todo a que chamamos universo, uma parte limitada no tempo e no espaço. A experiência que tem de si mesmo, dos seus pensamentos e sentimentos, é a de algo de separado do resto, uma espécie de ilusão óptica da sua consciência. Esta ilusão é uma espécie de prisão para nós, restringindo-nos aos nossos desejos pessoais e ao afecto por algumas pessoas que nos são mais próximas. A nossa tarefa deverá ser a de nos libertarmos desta prisão, alargando o círculo da nossa compaixão de modo a abranger todas as criaturas vivas e a totalidade da natureza na sua beleza.
Albert Einstein
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
Fios
Na semana passada tive uma experiência inédita até aqui: fui ao cinema, à primeira sessão da tarde, e tive o privilégio de ser a única pessoa na enorme sala!!! De início senti-me um pouco atrapalhada e também curiosa, seria que iam passar o filme só para mim? E não é que foi isso mesmo que aconteceu?!?
Ouvi no filme a canção "Gracias a la vida" e fiquei com ela atrás da orelha. Descobri a letra na internet e fiquei a saber que era da autoria de Violeta Parra. Já ouvi várias interpretações, mas a dela tem um sabor especial, pelo menos para mim. Não sei explicar exactamente porquê. É algo que sinto.
Depois descobri um vídeo onde a própria Violeta Parra canta e toca uma canção (nem sei como se chama) e achei muito belo... mais adiante, na entrevista, quando lhe perguntam que forma de expressão criativa escolheria se fosse obrigada a decidir-se por apenas uma (ela compunha, interpretava, tocava, pintava, escrevia, elaborava tapeçarias, entre outras coisas) e ela, olhando para baixo, um pouco incerta, mas segura também, respondeu: "eu escolhia ficar com as pessoas, pois são elas que me motivam a fazer tudo isso".
A forma como ela fala, as mãos a trabalhar na guitarra, no pano, com o pincel... um toque sensível, uma linguagem que ultrapassa a palavra e o silêncio
Que bonito. É enternecedor, faz-me sentir uma grande emoção...
terça-feira, 25 de setembro de 2007
Gracias a la vida
Gracias a la vida, que me ha dado tanto.
Me dio dos luceros, que cuando los abro,
Perfecto distingo lo negro del blanco,
Y en el alto cielo su fondo estrellado,
Y en las multitudes el hombre que yo amo.
Gracias a la vida, que me ha dado tanto.
Me ha dado el oído que, en todo su ancho,
Graba noche y día grillos y canarios
Martillos, turbinas, ladridos, chubascos,
Y la voz tan tierna de mi bien amado.
Gracias a la vida, que me ha dado tanto,
Me ha dado el sonido y el abecedario.
Con él las palabras que pienso y declaro,
"Madre,", "amigo," "hermano," y los alumbrando
La ruta del alma del que estoy amando.
Gracias a la vida, que me ha dado tanto.
Me ha dado la marcha de mis pies cansados.
Con ellos anduve ciudades y charcos,
Playas y desiertos, montañas y llanos,
Y la casa tuya, tu calle y tu patio.
Me dio dos luceros, que cuando los abro,
Perfecto distingo lo negro del blanco,
Y en el alto cielo su fondo estrellado,
Y en las multitudes el hombre que yo amo.
Gracias a la vida, que me ha dado tanto.
Me ha dado el oído que, en todo su ancho,
Graba noche y día grillos y canarios
Martillos, turbinas, ladridos, chubascos,
Y la voz tan tierna de mi bien amado.
Gracias a la vida, que me ha dado tanto,
Me ha dado el sonido y el abecedario.
Con él las palabras que pienso y declaro,
"Madre,", "amigo," "hermano," y los alumbrando
La ruta del alma del que estoy amando.
Gracias a la vida, que me ha dado tanto.
Me ha dado la marcha de mis pies cansados.
Con ellos anduve ciudades y charcos,
Playas y desiertos, montañas y llanos,
Y la casa tuya, tu calle y tu patio.
Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me dio el corazón, que agita su marco.
Cuando miro el fruto del cerebro humano,
Cuando miro al bueno tan lejos del malo.
Cuando miro el fondo de tus ojos claros.
Gracias a la vida que me ha dado tanto.
Me ha dado la risa, y me ha dado el llanto.
Así yo distingo dicha de quebranto,
Los dos materiales que forman mi canto,
Y el canto de ustedes que es el mismo canto.
Y el canto de todos que es mi propio canto.
Gracias a la vida que me ha dado tanto.
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
Nutrição
Nunca tive grande interesse pela cozinha nem pelos cozinhados, isto apesar de gostar muito de comidas saborosas. Sempre que podia lá ia eu experimentar um novo restaurante vegetariano ou provar comidas "diferentes", de outros países, sempre cheia de curiosidade em descobrir novos paladares.
Em Agosto decidi-me aventurar na cozinha. Comprei a revista Cozinha Saudável & Vegetariana e, quase sem dar por isso, fui-me entusiasmando com o cozinhados! De início não arriscava confeccionar pratos que me pareciam mais complicados, mas, aos poucos fui experimentando, provando, tentando... até hoje! Agora é raro comer fora, já quase nem o faço ao fim de semana. Tenho um enorme gosto em sentar-me a "programar" os pratos, depois ir procurar os ingredientes aqui e ali e ir para a cozinha recriar! Claro que comer aquilo que fiz é um momento muito especial, especialmente porque levar à boca aquilo que nos saiu das mãos não tem preço.
Hoje em dia parece que tudo já sai pronto e acabado de algum sítio que nos é desconhecido. É como se que não tomássemos contacto com partes essenciais à nossa existência. Parece que nem estamos interessados, com tanta coisa que nos dispersa, nos ocupa.
Ultimamente tenho-me libertado em inúmeras actividades criativas. Cozinhar, afinal, também não foge à regra... é uma arte muitíssimo criativa que não só alimenta o corpo, como também é uma forma de nutrir a alma. Outra verdadeira surpresa!
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
A menina entra
Às vezes vejo uma menina muito pequenina que envolve tudo à sua volta com um brilho no olhar... tem um desejo muito forte dentro dela, mas não é por palavras que o manifesta. Há qualquer coisa nessa sua presença, talvez uma linguagem poderosa e essencial que não se deixa rodear pela articulação organizada de sons nem pela fala. É um animal selvagem, um ser de liberdade... nasceu livre é livre
... um trovão rasga o céu negro e os relâmpagos acendem-se, ligam pontos invisíveis com fios de luz tão caóticos como a tempestade interior ...
Aquela menina não hesita, uma força maior vinda de dentro, fundo da vontade mais pura faz com que se entregue à escolha ... isso implica a responsabilidade pelo seu acto de vida. Ela sabe que não há regresso nesta estrada. Outros regressos há, mas não nesta estrada
Então, decidida, respira fundo, pega no trambelho velho e ferrugento, dás uns passos em frente e entra pela porta adentro
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
portas de dentro e de fora
Quase uma vida inteira a abrir e a fechar uma porta velha! Sair e entrar por um sinal do passado que foi mantido no presente por uma vontade estranha de perpetuar cadáveres ... como se a casa nova de então merecesse ter na entrada a cara velha desses difíceis tempos já idos ... para recordar a quem ali entrasse ou saísse, a quem a visse ao passar na rua que ali ainda habitava o espírito antigo!
Talvez fosse por medo. E se esse espírito das gerações passadas de pais, avós e bisavós se revoltasse lá do sítio do eterno descanso? Talvez sentissem como traição a mudança de uma porta velha, o seu legado, a sua herança ...
Não! A porta velha tinha de permanecer, mais 25 ou 30 anos! A marcar a sua presença, o seu caruncho antigo ... a lembrar aos actuais habitantes da casa renovada com novas paredes e ampliada com mais um andar que quem por ali entra vai para o passado profundo. Quem ali vive alimenta os segredos dos tempos que se desejariam remeter ao esquecimento ... mas não ... ali tudo o que tenha pó e teias de aranha é enaltecido ... reverenciado ... mantém-se inalterado ... Quem por aquela porta sai já não volta mais a ser o mesmo. É como uma espécie de iniciação, um rito de passagem para inocências perdidas ...
Quem passa na rua olhava aquela porta com espanto, repulsa e curiosidade. Como era poderosa! Conseguia também lançar o seu encantamento para o exterior. As excentricidades, com o passar dos anos, deixaram de ser uma novidade para os vizinhos. Pois, afinal era assim, nada a fazer. Uma aceitação resignada, pegajosa...
Pois é ... mas temos tendência a esquecer que tudo está em movimento ... somos seres de tempo e de espaço ...
Um dia ... no Sábado passado ... uma vontade ainda maior desfez a magia e retirou a afinal frágil porta, já velha e cansada ... a outra, a nova, aguardou tanto tempo o momento de se mostrar ... que grande surpresa!!!
A alegria maior é ter vivido essa mudança, estar presente ... afinal também eu mudei, cá dentro, uma porta velha e com a maior felicidade do mundo coloquei outra nova, mais leve e brilhante, mais fácil de abrir e fechar ...
terça-feira, 11 de setembro de 2007
O infinito
O senhor Henri pediu um copo de absinto.
O senhor Henri disse: há dois dias que não bebo.
... ando a fazer umas medições de um edifício antigo - disse o senhor Henri - e se bebo absinto as medidas do interior da casa ficam quase o dobro das medidas do exterior da casa.
... será possível uma casa ter uma das paredes com uma largura interior de dez metros e por fora medir apenas cinco?
... o meu conceito de infinito é este: uma caixa que por dentro mede 20x10x10, e que por fora mede l0x5x5.
... o infinito vem no absinto - disse.
O senhor Henri disse: há dois dias que não bebo.
... ando a fazer umas medições de um edifício antigo - disse o senhor Henri - e se bebo absinto as medidas do interior da casa ficam quase o dobro das medidas do exterior da casa.
... será possível uma casa ter uma das paredes com uma largura interior de dez metros e por fora medir apenas cinco?
... o meu conceito de infinito é este: uma caixa que por dentro mede 20x10x10, e que por fora mede l0x5x5.
... o infinito vem no absinto - disse.
E o senhor Henri, levantando o dedo indicador da mão, pediu ainda: mais um infinito, por favor. E dos grandes!
O Senhor Henri
Tem-me dado imenso prazer este livro... e vontade de rir... talvez mais sorrir, pois é um sorriso que acarreta também uma faceta melancólica, sentida, triste afinal. O Senhor Henri bebe absinto desde o princípio ao fim e fala, disserta sobre tudo e nada... não sei porquê mas fez-me lembrar aqueles tempos remotos em que também bebia esse estranho "licor" esverdeado... cheguei até a andar com uma garrafa na mochila...
Como as coisas são... como tudo muda...!
domingo, 9 de setembro de 2007
Celebração!
Adoro estas celebrações que me arrancam os pés do chão, me inspiram a gritar, pular, libertar! Ajudam-me a ficar perto da vida, do mundo, de tudo aquilo que me rodeia! Ontem à noite vivi um desses momentos especiais e soltei-me para a vida. Uma noite agradável, uma multidão que nos foi rodeando aos poucos, também entusiasmada com o chamamento de ritmo, cor, brilho, loucura dos animados Fanfare Ciocarlia. Ao lado de uma amiga entusiasmada e em delírio, bati palmas, cantei, dancei, vibrei cada instante como um todo sem fim! Que linda celebração de vida autêntica... que felicidade... alegria
Fez-me lembrar esses outros loucos varridos dos Gogol Bordello e do concerto no castelo de Sines! Delírio total, entrega total, dançar, pular, gritar até não poder mais (literalmente)... toda a gente no mesmo estado de espírito, a pedir ao corpo para se superar, ir mais longe! Uma sensação única... uma celebração única também...
Tanta coisa que aconteceu neste Sábado... tanta morte tanto renascimento
sexta-feira, 7 de setembro de 2007
Mysterious Skin
Às vezes o passado vem até nós de forma estranha, inesperada...
... durante um certo tempo (às vezes anos, outras vezes vidas inteiras!) vivemos como que adormecidos, mortos, longe do sentir... e pensamos que estamos vivos... mas essa vida não passa de uma ilusão de viver... afundados numa escuridão densa, polida, respiramos apenas, um ar sem vida, sem vida real! E pensamos que estamos vivos, pois moramos num corpo que nos acolhe vagamente, vemos os dias e as noites que passam... mas nada nos toca verdadeiramente! Nada! Um vazio... como se houvesse um vidro indelével a separa-nos do calor do sol, do toque revigorante do vento... do frio do Inverno... nada! Ilusão de viver! A verdadeira vida foi um sopro que se desvaneceu num qualquer momento... nesse ponto de viragem do passado... há muito muito tempo... um tempo imemorial
E nós sabemos que alguma coisa se passa, pressentimos, de longe que há algo que nos escapa... que a vida nos escapa como areia fina, corremos, buscamos, mas a beleza não tem aquela cor, o filme é a preto e branco. Choramos em segredo uma vida inteira, corremos ou ficamos simplesmente a olhar... passa o comboio e nós no cais... sempre à espera... que o nosso comboio chegue por fim... e nos leve... de volta para o sangue, as veias da vida!
... e um dia, de repente! Uma daquelas peças que andámos a juntar dá-nos um sinal, mexe-se, pisca-nos o olho... estende-nos a sua mão fria num convite, uma interrupção do tempo e do espaço... convida-nos a mergulhar na meia-noite profunda... um salto quântico que nos vai atirar para o abismo negro, onde um bicho de dentes arreganhados se prepara para nos devorar... a rir-se, a rir-se... mas... que escolhas temos? Se sempre esperámos por um sinal, um sonho, uma revelação???Não tenho medo de morrer agora, pois morta já eu estava antes! Nus despidos, sozinhos resta uma chama longínqua de fé coragem entrega
... aí vamos... a morte aguarda-nos, mas a revelação é a cura, o sinal de vida a sarar a sarar... a reconstruir os ossos, o sangue... a cor! Não há preço para esse renascimento... arrancamo-nos de dentro de nós mesmos desse canto sem nome... damo-nos à luz a luz da vida! E essa celebração transborda de dentro de nós para todo o mundo universo
... uma vida, muitas vidas, uma só caminhada
domingo, 2 de setembro de 2007
Um conto zen
Ontem passei umas belas horas à tarde na praia. Eram por volta das quatro e meia quando chegámos lá, o sol já não queimava como nas horas mais quentes, a água estava apetitosa. Enfim, depois da dificuldade em arranjar estacionamento e de toda a gente e carros que surgiam por todos os lado, estender a toalha naquele cantinho da areia, livrar-me da roupa e correr para a água foi um verdadeiro milagre. Não me apetecia sair de lá, nadava de um lado para o outro e boiava virada para o sol... que grande prazer.
Voltei para a toalha, sequei um pouco e peguei no pequeno livro de letras gordas que levara comigo na mochila. Adoro ler na praia! Li o primeiro conto e uma enorme emoção apoderou-se de mim. Como era belo, como me tocou... a beleza de uma lágrima de sal a deslizar num final de tarde de verão
Voltei para a toalha, sequei um pouco e peguei no pequeno livro de letras gordas que levara comigo na mochila. Adoro ler na praia! Li o primeiro conto e uma enorme emoção apoderou-se de mim. Como era belo, como me tocou... a beleza de uma lágrima de sal a deslizar num final de tarde de verão
Os patos-mandarim e o samurai
Há já muito, muito tempo, nas margens do lago Mimidoro, a que hoje se chama Mizoro, a nordeste de Quioto, um casal de patos-mandarim vivia em paz. Dava gosto ver, durante os belos Verões, o macho tomar balanço sobre a água, levantar voo, os bigodes cor-de-laranja, o bico vermelho escuro, e as magníficas asas frisadas. A Senhora e as crianças, vestidos. de um cinzento modesto, até o mais velho, que usava ainda a roupagem juvenil, não tiravam os olhos dele. À noite, os patinhos satisfeitos e adormecido, o Senhor, com uma terna bicada na face branca e graciosa, desejava boa-noite à esposa e, no buraco da árvore que lhes servia de casa, toda a família deslizava para o país dos sonhos.
No ano seguinte, nos primeiros dias da Primavera, um jovem samurai veio instalar a sua cabana nas margens do lago. A mulher esperava o primeiro filho. Eram pobres. O samurai teve -de comprar o seu equipamento: as calças rufadas, as botas altas, os punhos metálicos e a couraça de quatro abas. A mulher tinha-lhe confeccionado a "faixa de coragem", a mãe tinha economizado durante muito tempo para lhe oferecer as duas espadas tradicionais, a longa e a curta. Mas ele ainda não tinha a máscara medonha destinada a aterrorizar o inimigo. Esperava que um senhor nobre o tomasse ao seu serviço., Nessa noite, a mulher acordou-o e disse-lhe:
"Meu terno esposo, sei que somos pobres, e não queria importuná-lo, mas sinto já há algum tempo um desejo irresistível de comer carne, e tenho medo que o nosso filho sofra com isso." O jovem samurai não disse nem uma palavra. Pegou no arco e saiu para a noite. Postou-se à beira do lago, emboscado à espera de alguma presa. Por acaso, o pato--mandarim fazia uma passeio nocturno. No despertar da Primavera, com 6 ninho ainda vazio, pensava no duro trabalho de Verão que o esperava, quando fosse necessário alimentar toda a família. O samurai entreviu as asas frisadas que cintilavam à luz da lua. Atirou um flecha e matou-o. Meteu-o num saco e, chegado a casa, pendurou-o num ramo ao pé da cabana. Depois voltou para o leito e adormeceu.
Um barulho insólito despertou-o do sono. Uma espécie de "tap, tap!", como um barulho de asas. "O pato está apenas ferido, pensou, e debate-se no ramo onde o pendurei." Agarrou numa faca e saiu. O pato-mandarim pendurado pelas patas estava bem morto. Mas a fêmea tinha vindo, e batia as asas por baixo dele. O samurai fez brilhar a lâmina ao brandi-la. A pata-mandarim nem se mexeu, nem tentou fugir. Então ele acendeu uma fogueira para assar os dois, macho e fêmea. A pata continuava a bater as asas, indiferente à sua sorte, chorando o esposo morto. O samurai foi então inundado por um sentimento desconhecido. Foi acordar a mulher, mostrou-lhe o espectáculo deste amor conjugal e a esposa chorou.
"Não comerei desta carne por nada deste mundo," disse ela.
As crónicas antigas dizem que o samurai cortou o seu rolo de cabelo de homem de guerra, e se fez monge. Levou uma vida exemplar, protegendo os animais, preocupando-se com o mais pequeno insecto, e o seu nome é desde então venerado. Assim foi relatado das coisas do passado.
No ano seguinte, nos primeiros dias da Primavera, um jovem samurai veio instalar a sua cabana nas margens do lago. A mulher esperava o primeiro filho. Eram pobres. O samurai teve -de comprar o seu equipamento: as calças rufadas, as botas altas, os punhos metálicos e a couraça de quatro abas. A mulher tinha-lhe confeccionado a "faixa de coragem", a mãe tinha economizado durante muito tempo para lhe oferecer as duas espadas tradicionais, a longa e a curta. Mas ele ainda não tinha a máscara medonha destinada a aterrorizar o inimigo. Esperava que um senhor nobre o tomasse ao seu serviço., Nessa noite, a mulher acordou-o e disse-lhe:
"Meu terno esposo, sei que somos pobres, e não queria importuná-lo, mas sinto já há algum tempo um desejo irresistível de comer carne, e tenho medo que o nosso filho sofra com isso." O jovem samurai não disse nem uma palavra. Pegou no arco e saiu para a noite. Postou-se à beira do lago, emboscado à espera de alguma presa. Por acaso, o pato--mandarim fazia uma passeio nocturno. No despertar da Primavera, com 6 ninho ainda vazio, pensava no duro trabalho de Verão que o esperava, quando fosse necessário alimentar toda a família. O samurai entreviu as asas frisadas que cintilavam à luz da lua. Atirou um flecha e matou-o. Meteu-o num saco e, chegado a casa, pendurou-o num ramo ao pé da cabana. Depois voltou para o leito e adormeceu.
Um barulho insólito despertou-o do sono. Uma espécie de "tap, tap!", como um barulho de asas. "O pato está apenas ferido, pensou, e debate-se no ramo onde o pendurei." Agarrou numa faca e saiu. O pato-mandarim pendurado pelas patas estava bem morto. Mas a fêmea tinha vindo, e batia as asas por baixo dele. O samurai fez brilhar a lâmina ao brandi-la. A pata-mandarim nem se mexeu, nem tentou fugir. Então ele acendeu uma fogueira para assar os dois, macho e fêmea. A pata continuava a bater as asas, indiferente à sua sorte, chorando o esposo morto. O samurai foi então inundado por um sentimento desconhecido. Foi acordar a mulher, mostrou-lhe o espectáculo deste amor conjugal e a esposa chorou.
"Não comerei desta carne por nada deste mundo," disse ela.
As crónicas antigas dizem que o samurai cortou o seu rolo de cabelo de homem de guerra, e se fez monge. Levou uma vida exemplar, protegendo os animais, preocupando-se com o mais pequeno insecto, e o seu nome é desde então venerado. Assim foi relatado das coisas do passado.
Os Melhores Contos Zen
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
Diamanda Galas - Gloomy Sunday
Descobri esta interessante informação...
Uma música que me faz lembrar a minha parte mais sombria, negra... mas não somos feitos só de luz. A sombra também faz parte.
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
Curiosidades...
Há algum tempo (uns anos atrás...) uma velha amiga (não em idade)vinda de Serpa traçou num guardanapo de um hotel umas palavras e números estranhos para mim. Na altura tudo me pareceu mágico e distante. Reconheci nas suas palavras e explicações a sabedoria de uma realidade que eu não conseguia ainda pôr em palavras. Serenou a minha grande inquietação da altura, acalmou o meu coração através de um outro entendimento, um entendimento que ultrapassa tempo e espaço. Quando nos despedimos, senti-me mais confiante, mais pessoa, mais humana.
Hoje, como nesse dia, lembro-me bem desse sentir, recordo esse meu estado e sorriu, fico feliz e agradeço por tudo e nada, as mãos, os olhares que sempre me têm acompanhado tão perto. E subtis, discretos...
No passado fim-de-semana foi a minha vez de me iniciar na artes que essa minha amiga trouxe até mim nesse encontro... engraçado, não é?
terça-feira, 28 de agosto de 2007
Não pares junto à minha campa a chorar
Porque não estou lá.
Não estou adormecido.
Sou os mil ventos que sopram,
Sou o brilho do diamante na neve,
Sou a luz do Sol na semente madura,
Sou a chuva branda do Outono.
Na quietude macia da luz matutina
Sou a ave que voa veloz
Não pares junto à minha campa a chorar,
Eu não estou lá,
Eu não morri.
Porque não estou lá.
Não estou adormecido.
Sou os mil ventos que sopram,
Sou o brilho do diamante na neve,
Sou a luz do Sol na semente madura,
Sou a chuva branda do Outono.
Na quietude macia da luz matutina
Sou a ave que voa veloz
Não pares junto à minha campa a chorar,
Eu não estou lá,
Eu não morri.
Nativo Americano
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
A minha casa
A minha casa tem muitos nomes, é grande e pequena, com recantos escuros e luz a jorrar pelas janelas e portas abertas! Um pátio enorme, sol e lua alta a espreitar por entre ramagens de árvores. Como é bela e assustadora ao mesmo tempo. Parece que me afundo nela às vezes e outras vejo na transparência.
É bom habitar esta casa. Como sabe bem estar aqui!
É bom habitar esta casa. Como sabe bem estar aqui!
segunda-feira, 20 de agosto de 2007
O grão de trigo e o grão de oiro
Ia eu pelo caminho da aldeia
pedindo de porta em porta,
quando o teu carro de oiro
apareceu ao longe
como sonho magnífico.
E eu perguntava maravilhado,
quem seria aquele Rei dos reis.
As minhas esperanças
voaram até ao céu,
e pensei que os meus dias maus
tinham acabado.
E fiquei à espera de esmolas espontâneas
tesouros atirados ao pó.
O carro parou a meu lado.
Olhaste-me e desceste sorrindo.
Senti que por fim
tinha conseguido a felicidade da vida.
Mas, de repente,
estendeste-me a mão direita:
- Podes dar-me alguma coisa?
Ah! De que se havia de lembrar
a tua realeza!
Pedir esmola a um mendigo!
Eu estava confuso e não sabia o que fazer.
A seguir, muito devagar
tirei do meu saco um grãozinho de trigo
e dei-to.
Mas qual não foi a minha surpresa
quando, à tarde,
ao despejar o meu saco no chão,
encontrei naquele miserável monte
um grãozinho de oiro.
Como chorei amargamente
por não ter tido a coragem
de me dar todo a ti!
pedindo de porta em porta,
quando o teu carro de oiro
apareceu ao longe
como sonho magnífico.
E eu perguntava maravilhado,
quem seria aquele Rei dos reis.
As minhas esperanças
voaram até ao céu,
e pensei que os meus dias maus
tinham acabado.
E fiquei à espera de esmolas espontâneas
tesouros atirados ao pó.
O carro parou a meu lado.
Olhaste-me e desceste sorrindo.
Senti que por fim
tinha conseguido a felicidade da vida.
Mas, de repente,
estendeste-me a mão direita:
- Podes dar-me alguma coisa?
Ah! De que se havia de lembrar
a tua realeza!
Pedir esmola a um mendigo!
Eu estava confuso e não sabia o que fazer.
A seguir, muito devagar
tirei do meu saco um grãozinho de trigo
e dei-to.
Mas qual não foi a minha surpresa
quando, à tarde,
ao despejar o meu saco no chão,
encontrei naquele miserável monte
um grãozinho de oiro.
Como chorei amargamente
por não ter tido a coragem
de me dar todo a ti!
Rabindranath Tagore
quinta-feira, 16 de agosto de 2007
Aqui estão algumas das minha filhinhas
uma das primeiras peças, mas uma das últimas a serem queimadas no forno raku. Partiu-se, mas é personalidade!
quarta-feira, 15 de agosto de 2007
Raku naked - um caminho de felicidade
Um dia encontrei um papelinho que fazia publicidade a um workshop de Raku Nudo. Eu nunca tinha ouvido falar neste tipo de cerâmica e desde logo decidi ligar para saber mais pormenores.
... alguns membros da nossa equipa
Stefania Barale (Stefi), a formadora do curso de Raku Nudo, que simpaticamente me enviou estas fotos e me autorizou a mostrá-las aqui no blog. Obrigada, Stefi!
Inscrevi-me e entre meados de Junho e Julho lá fui eu a caminho da Escola António Arroio, local onde decorreu este curso.
O mínimo que posso dizer é que foi uma revelação para mim! As horas corriam, não havia cansaço que vencesse o interesse, a vontade, o entusiasmo. O início, como os inícios costumam ser para mim, foi de adaptação, de reconhecimento, de confusão. Era tudo tão novo!!! Depois, aos poucos, sem dar por isso, o amassar do barro tornou-se mais fácil e rápido, o brunir mais leve e eficiente as peças começaram a ganhar forma e personalidade... fui conhecendo os colegas (todas mulheres, excepto o prof. Fernando Sarmento) e de dia para dia sentia-me mais à vontade.
Cada vez mais feliz!
A primeira queima no forno Raku foi uma autêntica revelação para mim. Não esquecerei a cor alaranjada, transparente das peças ao levantar o forno. Pareciam mágicas, assim tão cintilantes, um milagre puro. Lindo! A violência e a fragilidade. Do equilíbrio dos elementos nasce a peça, descascada, lavada... tanto carinho dedicado a cada peça, as nossas "filhinhas" (a formadora do curso, Stefi, incentivou-nos sempre a cuidar assim das nossas peças).
O curso aproximava-se rapidamente do seu final e sentia-me mais e mais envolvida no processo criativo, um prazer imenso ao dançar com o barro, mergulhar as mãos nele, escutar a sua linguagem... começar também a falá-la. Todas as fases têm o seu encanto. Não seria capaz de escolher uma entre tantas. Todas são importantes, ajudam a construir o todo... a dar a luz final.
Senti-me no meu meio, como peixe na água, como flor na terra. Foi tão bom poder ajudar a colocar e tirar as peças do forno raku no último dia. Não conseguia parar um minuto que fosse. Subir e descer a temperatura, ver com o ferro se as peças já estavam prontas... colocá-las e retirá-las da serradura... molhá-las com água, raspá-las... exclamações de alegria e espanto, por vezes tristeza com alguma peça partida. Em suma... tanta emoção! Tanta vida! Tanto trabalho de equipa precioso.
Aprendi muito a vários níveis. O mais importante não consigo dizer, só viver, viver!!!
Quero voltar a sentir tudo isso, em continuidade... agora e amanhã... quero continuar!
Espero que seja para breve...
... alguns membros da nossa equipa
... no último dia (ou noite), com os sacos a abarrotar de peças lindas, a caminho de casa! Uma enorem efelicidade no coração... e também tristeza.
Stefania Barale (Stefi), a formadora do curso de Raku Nudo, que simpaticamente me enviou estas fotos e me autorizou a mostrá-las aqui no blog. Obrigada, Stefi!
terça-feira, 14 de agosto de 2007
As muitas actividades de Julho deram o mote à minha "nova vida". Ajudaram-me no renascimento, no despertar da criatividade. Foram uma lufada de ar fresco na vida demasiado espartilhada para o gosto do ser mais autêntico dentro de mim. Um salto no escuro, um grito de libertação, a abertura de muitas portas e postigos desta casa.
Para quê continuar a enganar-me? Para quê procurar ocupações que só me deprimem e entristecem? Por que não... por que não tentar o meu próprio caminho?
Deixar a estrada "segura" (como muita gente diz!), embarcar naquele trilho que me fala cá dentro. O que é a segurança? Está tudo em mutação, o mundo vibra ao ritmo do movimento cósmico...
E cá venho eu, passo-a-passo, devagar ou a correr!
O que quero eu, afinal? Ser feliz.
Para quê continuar a enganar-me? Para quê procurar ocupações que só me deprimem e entristecem? Por que não... por que não tentar o meu próprio caminho?
Deixar a estrada "segura" (como muita gente diz!), embarcar naquele trilho que me fala cá dentro. O que é a segurança? Está tudo em mutação, o mundo vibra ao ritmo do movimento cósmico...
E cá venho eu, passo-a-passo, devagar ou a correr!
O que quero eu, afinal? Ser feliz.
segunda-feira, 13 de agosto de 2007
Solilóquio
Uma folha em branco deitada num tabique de madeira apodrecida, por onde escorre um halo de luz diáfana, evocação de um rosto puído e estranho, que erra por um cais sem mar. Uma página vestida de crua nudeza e de um pudor súbito e prostrante, recolhida no vago aceno de uma ave que perdeu os progenitores numa estúpida batalha de sangue morno e corrompido. Lá fora, o apelo da rua vazia morre tacitamente na brisa insustentável que arrasta o meu ser em solfejos inauditos de quem receia falar. O olhar espaventado, nutrido de reminiscências dispersas, enclausurar-se-á num ábaco indecifrável onde a alma afoita divaga num escarnecimento num pulsar estrepitoso de culpa antiga, à espera. à espera de poder regressar. Um dia. Neste dia. mas porque tarda a madrugada escarlate, tempo de libertação (ó ave, voa! Voa!), a folha incessantemente branca, pálida como a própria mortalha da morte, fermenta a minha absurda vontade de pintar uma palavra que, de repente, numa explosão vibrante e cáustica, possa exprimir o eco surdo alojado no leito frio de uma cama por fazer. mas as palavras, sórdidos engenhos da vida, Puta acossada, desfalecem escamoteadas nos lábios tugidos e áridos. E o som, adágio de corpo moribundo atirado no fosso da memória, esvai-se no vagar alucinante de um cigarro que arde ao canto da boca.
A escrita do Hélder (1994), um mar de chamas sem fim...
Uma lembrança, um olhar... a mais viva morte!
segunda-feira, 23 de julho de 2007
Morrer e viver
( Cantoril, 8 de Junho de 2007)
MUERE LENTAMENTE
MUERE LENTAMENTE QUIEN NO VIAJA,
QUIEN NO LEE,
QUIEN NO ESCUCHA MUSICA,
QUIEN NO HALLA ENCANTO EN SI MISMO.
MUERE LENTAMENTE
QUIEN DESTRUYE SU AMOR PROPIO,
QUIEN NO SE DEJA AYUDAR.
MUERE LENTAMENTE
QUIEN SE TRANSFORMA EN ESCLAVO DEL HABITO
REPITIENDO TODOS LOS DIAS LOS MISMOS SENDEROS.
QUIEN NO CAMBIA DE RUTINA,
NO SE ARRIESGA A VESTIR UN NUEVO COLOR
O NO CONVERSA CON QUIEN DESCONOCE.
MUERE LENTAMENTE
QUIEN EVITA UNA PASION
Y SU REMOLINO DE EMOCIONES,
AQUELLAS QUE RESCATAN EL BRILLO DE LOS OJOS
Y LOS CORAZONES DECAIDOS.
MUERE LENTAMENTE
QUIEN NO CAMBIA LA VIDA CUANDO ESTA INSATISFECHO
CON SU TRABAJO O SU AMOR.
QUIEN NO ARRIESGA LO SEGURO POR LO INCIERTO
PARA IR TRAS DE UN SUEÑO.
QUIEN NO SE PERMITE
POR LO MENOS UNA VEZ EN LA VIDA
HUIR DE LOS CONSEJOS.......SENSATOS....
VIVE HOY
ARRIESGA HOY
HAZ HOY
NO TE DEJES MORIR LENTAMENTE
NO TE OLVIDES DE SER FELIZ....
PABLO NERUDA
MUERE LENTAMENTE QUIEN NO VIAJA,
QUIEN NO LEE,
QUIEN NO ESCUCHA MUSICA,
QUIEN NO HALLA ENCANTO EN SI MISMO.
MUERE LENTAMENTE
QUIEN DESTRUYE SU AMOR PROPIO,
QUIEN NO SE DEJA AYUDAR.
MUERE LENTAMENTE
QUIEN SE TRANSFORMA EN ESCLAVO DEL HABITO
REPITIENDO TODOS LOS DIAS LOS MISMOS SENDEROS.
QUIEN NO CAMBIA DE RUTINA,
NO SE ARRIESGA A VESTIR UN NUEVO COLOR
O NO CONVERSA CON QUIEN DESCONOCE.
MUERE LENTAMENTE
QUIEN EVITA UNA PASION
Y SU REMOLINO DE EMOCIONES,
AQUELLAS QUE RESCATAN EL BRILLO DE LOS OJOS
Y LOS CORAZONES DECAIDOS.
MUERE LENTAMENTE
QUIEN NO CAMBIA LA VIDA CUANDO ESTA INSATISFECHO
CON SU TRABAJO O SU AMOR.
QUIEN NO ARRIESGA LO SEGURO POR LO INCIERTO
PARA IR TRAS DE UN SUEÑO.
QUIEN NO SE PERMITE
POR LO MENOS UNA VEZ EN LA VIDA
HUIR DE LOS CONSEJOS.......SENSATOS....
VIVE HOY
ARRIESGA HOY
HAZ HOY
NO TE DEJES MORIR LENTAMENTE
NO TE OLVIDES DE SER FELIZ....
PABLO NERUDA
sexta-feira, 20 de julho de 2007
Transformações
Imagem ou "visão" (Março 2007)
Em finais de Março fiz um workshop muito interessante, denominado O Herói dentro de nós e, na fase da meditação/visualização relativa à área do trabalho, vi-me com as mãos no barro, cheia de contentamento e luz fazendo girar uma peça na roda de oleiro. Sentia uma alegria tão autêntica, tão profunda... uma satisfação sem fim!
Uma luz lançada na escuridão.
Depois desenhámos os aspectos que melhor poderiam descrever a nossa vivência. Esta jarra foi a minha representação.
Porque não ir em busca daquilo que nos faz realmente felizes? Aquilo que é autêntico para a nossa alma, que dá equilíbrio e alegria de viver? A procura do caminho autêntico pode trazer-nos muitas incertezas, mas isso já é parte do desafio! Quando somos corajosos, conseguimos andar na escuridão inicial e confiar em algo maior, uma voz, uma intenção, um rasgo, um voo... às vezes os olhos nada distinguem, só confiam. E assim prosseguem...
Acreditar, preparação do caminho, apelo às forças da vida e da morte, aos elementos, assim arriscamos sair da aparente segurança do que nos é conhecido e partimos nessa viagem rumo a uma realidade muito mais vasta, maior.
De facto, quando me inscrevi no workshop do Herói não percebi o que a imagem da jarra significava, mas, lá no fundo, uma luz acendeu-se. Um reconhecimento. E, desde essa altura, muitas transformações têm ocorrido na minha vida. Ou melhor, através dos pequenos passos que dou e da energia que imprimo às coisas, tenho impulsionado muitas transformações...
E o que quererei eu dizer com tudo isto??...
Em finais de Março fiz um workshop muito interessante, denominado O Herói dentro de nós e, na fase da meditação/visualização relativa à área do trabalho, vi-me com as mãos no barro, cheia de contentamento e luz fazendo girar uma peça na roda de oleiro. Sentia uma alegria tão autêntica, tão profunda... uma satisfação sem fim!
Uma luz lançada na escuridão.
Depois desenhámos os aspectos que melhor poderiam descrever a nossa vivência. Esta jarra foi a minha representação.
Porque não ir em busca daquilo que nos faz realmente felizes? Aquilo que é autêntico para a nossa alma, que dá equilíbrio e alegria de viver? A procura do caminho autêntico pode trazer-nos muitas incertezas, mas isso já é parte do desafio! Quando somos corajosos, conseguimos andar na escuridão inicial e confiar em algo maior, uma voz, uma intenção, um rasgo, um voo... às vezes os olhos nada distinguem, só confiam. E assim prosseguem...
Acreditar, preparação do caminho, apelo às forças da vida e da morte, aos elementos, assim arriscamos sair da aparente segurança do que nos é conhecido e partimos nessa viagem rumo a uma realidade muito mais vasta, maior.
De facto, quando me inscrevi no workshop do Herói não percebi o que a imagem da jarra significava, mas, lá no fundo, uma luz acendeu-se. Um reconhecimento. E, desde essa altura, muitas transformações têm ocorrido na minha vida. Ou melhor, através dos pequenos passos que dou e da energia que imprimo às coisas, tenho impulsionado muitas transformações...
E o que quererei eu dizer com tudo isto??...
quarta-feira, 18 de julho de 2007
Uma surpresa...
Pendente Místico, cobre (Julho 2007)
Há cerca de três semanas iniciei-me nas artes da joalharia... um desafio particular, como que "por acaso", de forma totalmente inesperada! Esta é a minha primeira peça. A minha filhinha. Tão simples, surpreendeu-me a mistura de formas, o triângulo e o círculo.
Em traços largos, foi assim que a elaborei, sob a supervisão da minha atenta professora:
- serrei o triângulo por fora e depois no interior
- serrei o círculo e abaulei-o para arrendondar
- soldei a forma arredondada ao triângulo.
Simples, não é? É um processo com muitos pormenores, um longo percurso para uma principiante como eu, mas que dá uma tremenda satisfação. Mesmo nas partes mais duras e físicas! Parece que ganho aos poucos uma nova consciência do corpo. Daquilo que é, daquilo que sou.
Afinal, era isso mesmo que eu andava à procura!
terça-feira, 17 de julho de 2007
The Tiger
Tiger ! Tiger! burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?
In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?
On what wings dare he aspire?
What the hand dare seize the fire?
And what shoulder, and what art,
Could twist the sinews of thy heart?
And when thy heart began to beat,
What dread hand? and what dread feet?
William Blake, Songs of Innocence and of Experience
segunda-feira, 16 de julho de 2007
John Everett Millais, Ofélia (1851-52)
mais viva morte
deslizo com a água
acompanho o murmúrio
cabelos soltos livres
vestido gelado desfeito
gotas suaves
segue-me a vegetação
único céu vivo
escuta a minha passagem
acolhe-me
perfume
flores atentas
terra, cobre-me caixão
o aconchego da terra
único horizonte
brisa, toca na folhagem
inventamos melodias
estes meus lábios
secos de sangue
embalamos silêncio
braços abertos
assim
esperem, mãos vazias
flores caídas
em mim
celebração
papoila viva fala morte
fala morte fala morte
aqui deitada
leito de vida
guia-me, movimento no desconhecido
leva-me
água
canta
deixa-me ir, já não resisto
inspiramos
fim de cada instante
sussurras-me
“Ofélia, a mais viva morte”
deslizo com a água
acompanho o murmúrio
cabelos soltos livres
vestido gelado desfeito
gotas suaves
segue-me a vegetação
único céu vivo
escuta a minha passagem
acolhe-me
perfume
flores atentas
terra, cobre-me caixão
o aconchego da terra
único horizonte
brisa, toca na folhagem
inventamos melodias
estes meus lábios
secos de sangue
embalamos silêncio
braços abertos
assim
esperem, mãos vazias
flores caídas
em mim
celebração
papoila viva fala morte
fala morte fala morte
aqui deitada
leito de vida
guia-me, movimento no desconhecido
leva-me
água
canta
deixa-me ir, já não resisto
inspiramos
fim de cada instante
sussurras-me
“Ofélia, a mais viva morte”
Eis o melhor e o pior de mim
O meu termômetro o meu quilate
Vem, cara, me retrate
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui eu não sou de Marte
Vem, cara, me repara
Não vê, tá na cara, sou porta-bandeira de mim
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
Vem, cara, se declara
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
A água é potável
Daqui você pode beber
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
(Marisa Monte - Infinito Particular)
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